Não é raro, hoje em dia, esbarrarmos em publicações no LinkedIn falando sobre como os processos seletivos têm ficado cada vez menos humanizados e mais robotizados. As reclamações que mais vejo passam por excessos de testes, muitas vezes repetitivos e nem sempre conexos com a vaga, bem como a falta de retorno do entrevistador em caso de não contratação e a consequente falta de empatia envolvida nessa etapa. É realmente frustrante para um candidato ficar em casa esperando, por dias, um retorno que nunca chega, seja ele positivo ou negativo.
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Uma pesquisa realizada em dezembro de 2017, conduzida pela American Staffing Association nos Estados Unidos, trouxe os seguintes resultados:
- 83% dos entrevistados concordam que a tecnologia facilitou a busca por um novo emprego.
- 69% dos entrevistados concordam que o processo de contratação tem ficado cada vez mais impessoal.
- 80% sentem que estão enviando seu currículo para uma caixa preta.
Já se passaram 5 anos desde que essa pesquisa foi conduzida, mas pelo buzz que vejo hoje nas redes sociais em relação a esse assunto, não tenho razões para acreditar que essas impressões por parte dos candidatos tenham mudado.
E como anda a humanização por parte dos candidatos?
Nos processos seletivos mais recentes que realizamos, o volume de currículos recebidos foi bastante alto. Quando estamos lidando com um volume muito alto de CVs, é muito complexo analisar, de forma individual e criteriosa, todos os candidatos sem a aplicação de testes de triagem, testes esses contidos em plataformas amplamente conhecidas e muitas vezes bastante questionadas pelos candidatos nas redes sociais.
Decidi, então, simplificar esse processo utilizando um easter egg. No meio do descritivo da vaga, havia uma instrução clara de que os candidatos deveriam citar, logo de início em suas cartas de apresentação, uma palavra-chave específica, contida ali no meio do texto. Em se tratando de uma vaga para lidar com marketing de conteúdo, entendi que alguém que sequer leu a vaga, estaria totalmente fora do perfil que eu pretendia contratar.
O resultado do experimento:
- 913 candidatos aplicaram para a vaga;
- A maioria mandou belas cartas de apresentação;
- 8.2% dos candidatos citaram a palavra-chave no início de sua carta de apresentação, conforme instruído – ou seja, 75 candidatos.
Logo de cara, o processo já me separou de forma automática quem leu e quem não leu um documento extremamente importante.
Esses 75 currículos sofreram, então, uma análise individualizada, foram triados através de nossos critérios de seleção e, por fim, a contratação foi realizada com sucesso.
Entretanto, esse experimento trouxe à luz um fato importante que precisa ser analisado com critério: a automatização nos processos seletivos não está ocorrendo somente por parte do empregador. Quantas cartas de apresentação Ctrl+C Ctrl+V eu recebi nesse processo? Quantos candidatos estão aplicando para vagas somente lendo o título das mesmas?
Para que os processos de recrutamento sejam mais humanizados, é necessário que isso ocorra de forma recíproca. Enquanto houverem centenas de candidatos aplicando por aplicar, haverá, na outra ponta, softwares para triar.
Você, candidata ou candidato, quer se destacar num processo? Leia atentamente o descritivo da vaga, cite o que está escrito lá e quais soluções você poderia criar para resolver possíveis problemas correlacionados com o que você vê.
Fazer isso com cada vaga é trabalhoso? Acredito que seja, mas essa é uma etapa muito importante tanto para você quanto para quem está do outro lado, recebendo centenas de aplicações. Enviar um belo texto de apresentação com base no copia e cola, não vai te diferenciar dos demais.