Consumir cultura sem preconceitos é uma premissa para qualquer comunicador. Fábio Astolpho adotou esse enunciado para sua vida. Ingressou na publicidade profissionalmente em 1996, uma escolha que nasceu da forte influência dos anúncios clássicos. Desde então, encontrou nas artes visuais o alimento para criar, juntou a fome com a vontade de comer. Não é à toa, admira o camaleônico David Bowie.
Estagiou em uma agência de design, foi assistente de arte e, aos poucos, chegou à diretor de arte em empresas como DM9DDB, NeogamaBBH, Talent e Publicis. Hoje, é diretor de criação na F.biz, agência de comunicação integrada, em São Paulo. Com um trabalho para a Saraiva, Astolpho e equipe conquistaram um Leão de Prata em Cannes este ano.
Mas completando oito meses na nova agência, ainda pretende suar muito a camisa. E é a transpiração que traz resultados para o trabalho na publicidade. Confira o bate-papo:
1. Você sempre quis trabalhar com criação?
Sofri impacto direto do Washington Olivetto, de “Meu Primeiro Sutiã” e toda a fase clássica da W/Brasil na minha fase pré-faculdade. Depois que eu desisti de ser engenheiro aeronáutico, eu decidi ser publicitário. Mas isso foi antes mesmo de prestar vestibular. Entrei na faculdade para ser redator, mas no meio do curso, mudei de ideia.
2. Como é sua rotina hoje?
Rotina fixa não existe. Eu me divido basicamente entre contato com a equipe, que consiste em cuidar do critério e do trabalho que sai, e estar na linha de frente com o cliente. Aliás, foi uma grande mudança que tive na minha rotina depois que passei a ser diretor de criação: estar na linha de frente, alinhavando tudo.
3. O que é mais importante para compor um ambiente que desperte a criatividade?
Competitividade com ética e respeito, e felicidade. Ambiente que é feliz, porém competitivo, vai para frente. Não acredito em ambiente onde exista pressão excessiva. Isso não faz o motor girar.
4. Qual é sua percepção sobre premiações?
A premiação tem que ser um reflexo do seu trabalho diário. É uma boa régua para medir a capacidade do indivíduo, mas não deve ser a única regra. Não acredito no profissional que é bom só em prêmio ou só no dia a dia. O profissional tem que ser bom nos dois lados.
5. Você também é fotógrafo. Como isso ajuda no seu trabalho?
De todos os jeitos. Depois que eu me formei, para conter a pressão familiar, eu dizia que a minha pós-graduação estava nos museus. Não acredito em criativo que fica atrás da tela do computador 24 horas. As pessoas precisam fazer coisas sem regra, sem medida e sem escutar “isso não pode” ou “não temos verba para isso”. É preciso ter contato com formas diferentes de criar. Consumo muito fotografia e isso me ajuda até mais do que fotografar.
6. Alguma foto favorita?
Tenho duas. Uma do Robert Frank, fotógrafo suíço que ficou famoso ao publicar um livro com fotos de uma viagem pelos Estados Unidos de uma forma que os norte-americanos não queriam exatamente ver. E uma do William Eggleston, que é um fotógrafo de Memphis, nos Estados Unidos, uma cidade que não tem atrativo nenhum, é feia, e mesmo assim ele conseguiu fazer coisas fantásticas fotografando aquele universo.
7. Alguém que te inspira.
David Bowie.
8. Como você alimenta sua mente?
Como eu já disse, minha sala de aula é o museu, a sala de cinema. Por ser diretor de arte, cultura visual me interessa muito. Acredito que é preciso consumir criação, seja ela de que forma for. A gente precisa se alimentar de outras coisas que não sejam só publicidade.
9. No dia a dia, o criativo tem “crise de criatividade”?
O artista tem esse direito, mas um criativo de propaganda, não. Tem que suar a camisa mesmo.
10. Três atividades que você gosta de fazer.
Fotografar (óbvio!), viajar e voltar a ser criança com os meus dois filhos.
11. Algum filme essencial para quem trabalha com criação?
Quem trabalha com criação tem que consumir todos que puder. Dos mais “cabeças” aos mais “Marvel”. Criativo não pode ter preconceito pois tudo vira insumo.
12. O que você está lendo?
Estou lendo dois livros: “Ligeiramente Fora de Foco”, que é a autobiografia de um fotógrafo de guerra chamado Robert Capa. Também estou lendo um que uma grande amiga, Malu Gaspar, escreveu, “Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X”, que é a história do empresário brasileiro.
13. Uma dica para quem está começando.
Faça dos seus 10 primeiros anos de carreira os melhores. Transpire muito, pois essa profissão é feita de transpiração mesmo, não é lenda.
14. Qual é seu próximo objetivo?
Meu atual objetivo está tão recente que ainda não deu nem tempo de pensar no próximo. Cheguei na F.biz há apenas oito meses. Meu objetivo agora é fazer essa etapa se consolidar. E é para isso que estou trabalhando.
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