Eu não sei se você sabe, mas no Design, tão importante quanto a escolha das cores, de boas imagens, de formas e ilustrações, de um grid para a diagramação da peça, é a escolha da tipografia.
Talvez a tipografia seja o principal elemento no Design Visual. Mais do que somente letras, ela tem o poder de transmitir sensações, “tons de voz”, figuras de linguagens e até mesmo a sua ausência (desde que intencional) pode transmitir uma mensagem.
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A tipografia é com certeza um dos elementos mais importantes da mídia impressa e também digital. Ela está nos jornais, revista, logos, banners, outdoors, na televisão, no Youtube, no apps de celular e na web. Existem até peças de artes que são essencialmente tipográficas.
Em 2006, o designer Oliver Reichenstein criou um artigo onde dizia que a 95% do Web Design era composto por tipografia. Eu não consigo afirmar se realmente se a tipografia corresponde a tal número, mas com certeza desde muito antes desse artigo a tipografia já era rei de peças do design visual.
Por tal razão uma família tipográfica não poder qualificada apenas como aglomerado de letras. A sua escolha e aplicação deve ser pensada a fim de atingir o objetivo de comunicação.
Escolher e utilizar a tipografia da maneira certa pode fazer a total diferença entre um projeto bem sucedido de um trabalho que irá para o limbo.
A seguir vou te passar algumas dicas de tipografia. Apesar de existirem certas peculiaridades dependendo da mídia escolhida, existem certos macetes, regras e táticas que funcionam em qualquer plataforma.
Confira:
1. Qual a mensagem que você quer passar? Qual é a voz do projeto?
Assim como na comunicação por voz, uma família tipográfica pode transmitir certas sensações e até mesmo tons de voz. Veja o exemplo a seguir:
Nos dois casos foram utilizados a mesma frase, mas percebe a diferença na mensagem transmitida?
Enquanto no primeiro a mensagem remete a algo afetuoso, o outro parece uma ameaça, talvez escrita por um psicopata. Por essas e outras que, ao pensar em uma família, você deve ter em mente o tema da peça.
No primeiro caso, por exemplo, a fonte ficaria ótima em uma campanha mais romântica e lúdica. Talvez até em alguma peça para o Dia dos Namorados.
Já no segundo caso, caberia até para um cartaz de filme de terror ou algo referente ao Halloween.
Além do objetivo do projeto deve-se pensar também no público. Como é o perfil do seu público-alvo? Ele é jovem ou é idoso? São adolescentes ou adultos? São advogados ou designers? Dependendo do seu público, você saberá por qual caminho seguir: se será mais viável uma família tipográfica mais jovial e despojada, ou mais séria e conservadora.
Portanto antes de escolher uma fonte, pense: qual a voz eu quero transmitir para o leitor?
2. É para ler ou para ver?
Outro fato super importante que você deve se atentar é se o texto será para ler ou para ver.
Textos para ver são sentenças curtas como chamadas e títulos. Eles são “para ver”, pois normalmente causam um impacto visual, atraindo a atenção do leitor. E, por normalmente serem compostos por pequenas frases, o que mais importa é a legibilidade, ou seja, a distinção que conseguimos fazer de uma letra para outra.
Já os textos “para ler” são grandes manchas de texto, o famoso texto corrido, que encontramos em jornais, revistas e livros. Por serem compostos por um parágrafos e grandes sentenças, eles necessitam de uma maior precisão na comunicação.
Neste caso o impacto visual não é o mais importante, e sim a transmissão correta da informação através de uma leitura fluída, que seja o mais confortável possível. Neste caso, o valor que mais importa é a leiturabilidade, ou seja, o reconhecimento e fluência dos tipos em grandes sentenças.
Para ficar mais fácil de entender veja o exemplo a seguir:
No exemplo acima a família tem uma razoável legibilidade. Isso significa que a gente consegue diferenciar os glifos e ler a mensagem. Seria um tipo que poderia funcionar bem em um título, por exemplo.
Agora vamos utilizar a mesma fonte só que em um parágrafo:
Veja como é difícil e desconfortável ler o que está escrito.
Agora um exemplo com um tipo para ler no título e outro para ver no parágrafo:
Notou a diferença? Consegue perceber como é mais fácil ler o parágrafo com essa nova fonte e como o título mantém um impacto visual?
Portanto quando precisar de tipos “para ler” procure os mais tradicionais e que funcionam melhor em grandes manchas de texto, como por exemplo, Arial, Verdana, Times New Roman, Helvetica, etc.
Já quando o título for “para ver” você pode ser mais ousado e utilizar tipos manuscritos, cursivos e que abusam do visual para atrair a atenção do leitor.
3. Qual o número ideal de fontes no projeto?
Apesar de gerar várias dúvidas, principalmente nos iniciantes, não existe uma regra específica sobre esse tópico. Aqui o ideal é entender do que se trata o projeto e utilizar o bom senso.
Veja no exemplo da arte desta caneca:
Ela utiliza vários tipos diferentes, mas isso não prejudicou o resultado final, pois se trata de sentenças curtas e segundo que o estilo da arte da essa liberdade de criação.
Porém, veja este outro exemplo:
Neste caso o mesmo critério não poderia ser aplicado por se tratar de um e-book com bastante informação, que precisa manter uma hierarquia visual, boa leiturabilidade, etc.
Portanto não existe (e se alguém lhe disser que existe, não acredite), um número de ouro sobre a quantidade de fontes a serem utilizadas. Na maioria dos casos, principalmente em projetos mais tradicionais, entre 1 a 3 famílias tipografia, já é o suficiente, sendo o mais comum o uso de 2.
Inclusive, em muitos casos, apenas uma família já resolve o caso, apenas utilizando variações de peso, cor e inclinação da fonte.
Acima de 3, normalmente você já pode criar algo esteticamente feio e muito confuso para o usuário. Também procure manter uma identidade e estilo visual. Assim você não correrá o risco de criar algo do tipo:
Tenha cuidado!
4. A cor de fundo tem um bom contraste com o tipo?
Não importa se o texto é impresso ou é digital, uma coisa é certeza: ele precisa ser visível. E para isso o contraste entre o fundo e a letra é fundamental. Veja o exemplo a seguir:
Quando falamos sobre cores, entendemos que o contraste é a distinção em as propriedades das cores como matiz, saturação e luminosidade.
Tenha cuidado ao escolher as cores. O ideal é que a cor do texto tenha um bom contraste com o fundo.
Pouco contraste pode deixar as letras e palavras perdidas no fundo. Do mesmo que algo muito exacerbado, pode causar tensão dos olhos e dificultar a legibilidade.
Você também pode utilizar de outras propriedades da fonte como espessura, tamanho e entrelinhas para melhorar o contraste e garantir uma melhor leitura.
5. A linha está muito longa? Tem muitas palavras?
Uma linha muito longa pode tornar a leitura tediosa, cansativa e chata. Cuidado com a utilização de linhas muito grandes. Elas podem prejudicar a leitura e o foco do leitor.
O comprimento da linha sempre deve ser coerente com o suporte utilizado e o tamanho do corpo do texto.
Na média entre sete a quatorze palavras por linha já é o suficiente.
Mas não seja radical e saiba que uma linha muito curta também pode ser ruim, fazendo com que os olhos façam movimento repetitivos e rápidos causando desconfortos no leitor.
Na dúvida, imagine que você está no lugar do leitor.
6. O tamanho do texto está compatível com a mídia, público e função?
Existem projetos que necessitam de tamanhos menores e mais comprimidos por conta do espaço, como por exemplo, uma bula de remédio. Outros precisam de um tamanho grande para ser visto de longe e chamar a atenção, como um outdoor.
Seja por questões de espaço, de objetivo de comunicação ou até de público de alvo (um conteúdo feito para idosos, normalmente as letras precisam ter um tamanho maior do que para jovens, não é?) o seu texto tem que ser coerente com o projeto.
Não faça o público ter que espremer os olhos para ler uma informação importante e nem grite com ele dando ênfase demasiado em uma sentença, ao menos que seja proposital.
Tenha empatia pelo seu leitor/usuário, se colocando no lugar dele(a).
7. Tem muito ou pouco tracking?
Tracking é o espaçamento entre as letras em um bloco de texto. Você pode “alargar” ou “apertar” esse espaço de forma intencional.
Em títulos, logotipos, chamadas e pequenos textos, utilizar tal recurso pode ajudar na questão estética da peça. É muito comum vermos tal efeito aplicado em cartazes de filmes, por exemplo.
Porém em textos longos, é preciso ter cuidado com o seu uso. Do mesmo que a entre linha, um tracking muito espaçado ou muito apertado pode prejudicar demais na comunicação.
Sempre avalie cada caso de forma diferente e singular. O que pode funcionar esteticamente em um caso, pode ser ruim em outro.
Na dúvida, e principalmente para textos longos, a escolha mais segura é definir os valores padrão da própria fonte.
8. O leading está ok?
Leading significa entrelinhas, ou seja, o espaço entre as linhas do texto. Uma entrelinha muito “apertada” pode prejudicar a comunicação.
Já uma entrelinha muito “espaçada” podem deixar os textos tediosos e até mesmo transformar parágrafos em frases separadas.
O espaçamento é importante para a leitura do texto, pois sem ela teríamos um emaranhado de textos, mas é preciso dosá-la com cuidado.
9. Será que esse alinhamento é o ideal?
Fique atento aos alinhamentos justificados. Eles podem criar “rios” no seu texto, prejudicando a estética e a leitura. Caso isso ocorra, procure resolver com alternativas, como por exemplo, a utilização de hifenização.
O alinhamento centralizado também pode prejudicar a leitura se for utilizado de forma errada. Evite tal alinhamento em grandes manchas de texto, pois as frases podem ficar desconectadas, além do seu layout ficar com um visual precário.
E lembre-se que no ocidente a nossa leitura é da esquerda para a direita. Logo ao usar o alinhamento à direita, prefira utilizá-lo em pequenos trechos de texto.
10. E por fim…Será que estou mantendo uma coerência visual?
Não importa qual seja o seu projeto, mídia utilizada, público-alvo, orçamento. Escolher a família tipográfica certa para o seu projeto é essencial. E não basta somente escolher, é preciso aplicá-la de forma coerente, equilibrando questões estéticas e funcionais.
Para se ter êxito, o designer precisa saber que não existem receitas de bolos. Não é algo 100% lógico e regrado. Uma fonte que é boa para um projeto pode não ser para outro.
Na busca da fonte ideal, deve-se se levar em conta os elementos gráficos que circundam o tipo, o tom que se deseja passar, a mídia utilizada, o objetivo de comunicação do projeto e principalmente o público.
Não existe certo e errado. Não existe família tipográfica boa ou ruim. O que existe é uma boa ou má aplicação da fonte. Utilize a tipografia a seu favor, procure manter uma coerência visual onde você consiga passar a informação de forma precisa, mantendo uma qualidade estética.
Até mais!
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Referências:
Guia de Tipografia – Parte 1, Parte 2 e Parte 3
Tipografia para Web – Parte 1 e Parte 2
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