O trampos.co apresentou um levantamento (veja aqui) com dados de 2014 referente ao perfil e aos interesses das mulheres cadastradas no site. O ponto principal é a disparidade na pretensão salarial. Em todas as categorias as mulheres pedem menos que os homens. Então me pergunto os motivos dessa diferença. Talvez seja a valorização da própria mão de obra? Talvez. Mas existe a histórica desigualdade no mercado de trabalho que conversa com esse fator.
Particularmente, acredito que quando elaboramos uma pretensão salarial devemos medir o valor da demanda e não nossa força de trabalho. O que está em questão quando nos deparamos com uma oportunidade no qual nos consideramos capazes de corresponder não é a aptidão para atendê-la e sim o quanto ela vale. E acrescente nessa conta o fator de necessidade financeira, é claro.
Por outro lado, existe uma questão bem mais profunda do que quanto queremos ganhar por um trampo. Uma questão muito mais complicada do que auto-valorização: a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, por parte do empregador. Ainda vivemos em um mundo onde os salários de homens e mulheres em uma mesma posição são diferentes em muitos segmentos.
Não é a toa que recentemente esse debate tem sido reverberado. É porque a realidade é essa e muitas pessoas preferem ignorá-la. Patricia Arquette, com o Oscar de melhor atriz coadjuvante em mãos, protagonizou um discurso sobre salários igualitários e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos. Porque é real. Juntas, as listas do The Hollywood Reporter e Forbes, têm apenas duas mulheres (Sandra Bullock e Jennifer Lawrence) entre os dez que mais faturam.
Cate Blanchett também havia demonstrado indignação: “Estamos em um mundo em que, em pleno ano de 2014, ainda não se paga o mesmo para homens e mulheres. Não entendo”. Eu também não.
Nos esportes, a história se repete. Obviamente, existe a problemática dos incentivos públicos que é complicada para todos, mas vamos falar de salários. A lutadora de MMA Ronda Rousey campeã olímpica e conhecida por suas finalizações no UFC, onde é dona do cinturão da categoria peso-galo, também é um ponto importante para pensar nessa desigualdade.
Apesar de ter sido a principal estrela do card de lutas na noite do último sábado, 28 de fevereiro, Ronda não teve os maiores ganhos. Segundo a ESPN, Ronda levou, no total, 130 mil dólares, enquanto Jake Ellenberger, da terceira luta mais importante da noite, 136 mil. Será que existe um motivo para a diferença, já que ambos receberam salário + bônus? Alguém pode falar sobre contratos, exposição e business. Só não vale argumentar para tentar disfarçar um problema muito maior.
Nos Estados Unidos, existe um site para avaliar empresas a partir do tratamento oferecido à mulheres. O InHerSight expõe as diferenças de tratamento em grandes empresas. O objetivo é medir a taxa de desigualdade entre mulheres e homens no trabalho. Um teste com perguntas simples revela como é o ambiente de trabalho e se há discriminação. É um bom exemplo para exprimir os problemas e tentar resolvê-los.
Taí uma pesquisa que gostaria de ver no Brasil. Em comunicação, todos ambientes que trabalhei era predominantemente de homens. Coincidência? Talvez. Mas sempre achei estranho, já que em sala de aula a maioria era de mulheres. Já passei por processos seletivos que perguntaram sobre meu humor na TPM, sobre namorados, sobre planos de ter filhos e sobre meu signo do zodíaco. Será que existem questões avaliativas equivalentes para homens? Gostaria que esse tipo de pergunta não existisse para nenhum de nós.
Mudar tudo isso é um trabalho demasiadamente árduo, com debates, desconstrução de estereótipos e empoderamento feminino. É um caminho que homens e mulheres precisam andar lado a lado.