Quando criança, Anyssa Ferreira gostava de brincar de desenhar. Naturalmente, escolheu a faculdade de Design Gráfico e, por não ter medo dos novos meios e da tecnologia, passou a desenvolver front-end. Desde cedo, sabia que queria ter seu próprio estúdio. Escolheu empreender e especializar se em design de interatividade para web, games e vídeo. Anyssa não tem motivos para ter medo da programação e mostra que as mulheres podem tomar os espaços que quiserem.
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Atuante na comunidade WordPress brasileira com tradução do software, desenvolvendo plugins, entre outras atividades, no último ano ela se engajou em aproximar as mulheres desse ambiente com discussão e networking. Não por acaso, foi escolhida em uma premiação da Fundação WordPress para criar iniciativas de inclusão das mulheres na comunidade.
Anyssa ministra o lab de WordPress no trampos ACADEMY, entrando a fundo no uso da ferramenta para designers. Confira a entrevista:
1. Conte um pouco sobre como sua carreira se desenvolveu. De onde surgiu o interesse em Design?
Desde criança, minhas atividades favoritas eram desenhar e usar o computador. Com 13 anos eu brincava no Photoshop, CorelDRAW, Flash e com HTML. Aprendia tudo com tutoriais de revistas de informática, aquelas que vinham com o CD-Rom. Mais tarde, um amigo me indicou o curso técnico de Design Gráfico da ETEC Carlos de Campo e a partir daí eu descobri que era exatamente o que eu queria fazer. Ingressei na faculdade, cursei Design Gráfico / Comunicação Visual no Centro Universitário SENAC. Hoje sou designer focada principalmente em projetos de interface e interatividade.
2. Quando e por que você escolheu empreender e ter seu próprio estúdio?
Meu objetivo final sempre foi empreender. Ainda na faculdade, decidi partir logo para a carreira freelance, pois prevendo as dificuldades do início do caminho preferi arriscar logo. Em sociedade com meu namorado Allyson Souza (fizemos o curso técnico juntos, ele se formou em Jogos Digitais), nós fundamos o estúdio Haste. Hoje oferecemos serviços, consultoria e treinamentos em desenvolvimento web, e somos especializados em WordPress.
3. Há questões complexas por trás da ausência ou baixa participação de mulheres na área de Programação. O que você acha que motiva isso?
Sim, não podemos apontar apenas uma causa que afasta as mulheres das áreas relacionadas a tecnologia. Em 2015 fizemos uma pesquisa (aqui, uma análise dos dados) para descobrir o que afastava as mulheres dos eventos de WordPress. Descobrimos que são as coisas pequenas que muitas vezes afastam as mulheres, como piadinhas, serem subestimadas, ficar desconfortável em um ambiente majoritariamente masculino. Algumas mulheres não vão aos eventos pois já esperam este tipo de coisa. Falta de tempo e acúmulo de responsabilidades (como cuidar dos filhos e afazeres domésticos) também impedem mulheres de comparecerem. Quando temos ambientes sem discriminação e quando as mulheres podem contar com o suporte da família a participação feminina aumenta.
4. Como começou o seu envolvimento com a comunidade WordPress?
Em 2013, eu sugeri que utilizássemos o WordPress como plataforma para desenvolver um novo site para o nosso estúdio, o Haste. Porém como era a nossa primeira experiência de desenvolver algo do zero com WordPress, nós acabamos interagindo bastante com as pessoas que participavam do fórum. Através deles conhecemos o WordCamp São Paulo, conferência anual oficial de WordPress organizada por voluntários. A partir de 2014 nos tornamos parte do time de organizadores voluntários do evento. Durante o restante do ano organizamos também encontros mensais (os meetups). Além de gerenciar os eventos, atuo fazendo o design para a comunidade WordPress São Paulo, contribuo com a tradução do software, desenvolvendo plugins, entre outras coisas.
5. E como tem sido o trabalho para encorajar mais mulheres a fazer parte da comunidade no Brasil?
Depois da pesquisa, no WordCamp São Paulo 2015 conseguimos dobrar a participação feminina, e as palestrantes aumentaram de 1 de 20, em 2014, para 9 de 26, em 2015. Mais mulheres também passaram a frequentar os meetups e postar nos fóruns. Em setembro de 2015 eu fui escolhida a primeira ganhadora da Kim Parsell Scholarship, uma premiação da Fundação WordPress que escolhe uma mulher de qualquer lugar do mundo que atua para incluir mais mulheres e outros grupos na comunidade WordPress. Em resumo, estamos evoluindo bastante.
6. Você acredita que as mulheres começaram a tomar conta desse espaço? Cite algum projeto ou iniciativa que ajuda nessa melhoria.
Criamos o grupo WordPress Brasil Women, no Facebook para trocar informações e networking. Outras iniciativas importantes são o projeto Tutoras, Programaria, Reprograma, Atena Haus, entre outros. Estão sendo criados grupos específicos para as mulheres para que elas se sintam mais confiantes para estudar ou atuar no mercado de trabalho. E quanto mais este processo de empoderamento se expande, mais e mais mulheres passam a tomar os espaços que antes lhes eram negados.
7. O que você mais gosta em ministrar aulas e palestras?
Gosto de ver a evolução das pessoas, e como a informação e o conhecimento que retemos podem fazer a diferença e ter um impacto real para os outros. Procuro não só compartilhar o que eu sei, mas também aprender com a troca experiências.
8. Alguns profissionais da área de Design ainda não fazem web, preferem focar ou viver só da parte gráfica. Qual caminho você indica para quem precisa começar a migrar e a conhecer mais sobre o Design na web?
Assim como estudamos os processos impressão para desenvolver bons materiais gráficos, temos que conhecer a fundo como a web funciona. Se puder aprender HTML e CSS, que são as bases da web, melhor ainda. Não tenha medo de estudar programação, o código é só mais uma forma de “imprimir” o design. Entenda também a arquitetura dos sistemas. Estude sobre usabilidade. Fique atento as tecnologias disponíveis para viabilizar o seu layout. E principalmente, não se esqueça dos fundamentos do design que são independentes do meio: uma boa tipografia é tudo!
9. Que fatores acredita que podem diferenciar um profissional de Design atualmente?
Com a abundância de tecnologia que temos hoje, se destaca quem consegue fazer o que é fundamental com excelência, e ainda colocar um pouco de criatividade em um meio que está tendendo para uma padronização muito grande.
Os templates estão aí, e nós designers temos que oferecer mais do que um bom visual. O bom design hoje é aquele que traz junto alguma mensagem ou conceito, é aquele que amarra todas as pontas. Para isso, os designers têm que se preparar para atuar em equipes multidisciplinares, aplicar outras áreas de conhecimento ao seu trabalho, ouvir o cliente e os usuários, interpretar estas informações, ser desapegado e estar disposto à mudar para melhor. Nós somos os codificadores visuais do mundo.
10. Cite livros e/ou filmes que te inspiraram.
O livro “O mundo codificado”, de Vilem Flusser, foi marcante para mim. De uma forma não convencional metodologicamente, ele aborda profundamente a filosofia do design, sua natureza ambígua em múltiplos sentidos. Fala da relação entre design e tecnologia e como hoje toda a informação que consumimos é codificada.
Outro livro que gosto bastante é “Elementos do estilo tipográfico”, de Robert Bringhurst. O autor fala sobre tipografia, mostrando a história e principalmente os fundamentos. Explica minuciosamente todas as regras estabelecidas ao longo dos séculos necessárias para alcançar uma boa composição textual.
E por último, o filme Interestelar, que mostra a trajetória de cientistas no espaço em busca de outro planeta habitável. Embora o filme seja científico, ao tratar da questão do tempo e da relatividade ele transmite também uma mensagem filosófica bem profunda.
11. Quais são seus próximos objetivos?
Quero continuar ministrando cursos, trabalhando no estúdio Haste com projetos que envolvam design e tecnologia, interatividade, web, WordPress, games, e em breve ingressar no mestrado.
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