Sabe aquela ideia que parece genial, mas falta algum detalhe, empurrão ou dinheiro para colocar em prática? Quem trabalha com processo criativo geralmente engaveta projetos que nunca vão sair do papel. Planos nunca realizados podem nos trazer aprendizados e insights sobre quais caminhos devem ser seguidos ou não. O cinema ensina:
ALEJANDRO JODOROWSKY | DUNA
O cineasta chileno ficou conhecido pela sua versão nunca rodada de Duna, filme baseado no clássico livro de Frank Herbert. Em 1975, para a superprodução, ele convidou artistas como H.R. Giger, Moebius, Dan O’Bannion, Chris Foss, Pink Floyd, Orson Welles, Mick Jagger, Salvador Dalí e David Carradine. Jodorowsky até isolou-se em um castelo na França para escrever o roteiro final. Tinha como dar errado? Sim.
O potencial filme mais inovador e genial da época ficou apenas para a história e nunca aconteceu. A versão Duna do chileno nunca foi executada por falta de investimento. Ninguém acreditou que um projeto tão conceitual pudesse dar certo comercialmente. Ao menos, ideias posteriores ganharam espaço pela insistência. As loucuras de Jodorowsky abriram espaço para outros filmes de ficção científica que talvez nunca tivessem acontecido se ele não tivesse pelo menos tentado – em 1984, David Lynch lançou sua versão de Duna.
Em documentário, Frank Pavich mostra que o talento do cineasta foi sobreposto pelas necessidades de retorno financeiro. Uma luz no caminho de ideias imponentes que podem não dar certo.
STANLEY KUBRIK | NAPOLEÃO
Dizem que a cinebiografia do imperador francês fez com que Kubrick garimpasse 18 mil livros como referência ao longo de 30 anos. Até em um projeto não executado, ele foi perfeccionista.
A ideia era realizar um filme grandioso. Mas a produção não foi para frente, mais uma vez, por medo das produtoras que um projeto tão ostensivo e com tantos custos poderia dar prejuízo. Os épicos estavam fora de moda e a MGM e a United Artists se recusaram a arriscar. Kubrick mostra que mesmo projetos bem estudados e super planejados podem não dar certo. Ao longo de uma carreira brilhante e consistente, com Napoleão ele precisou entender o mercado e engavetar seu projeto.
TERRY GILLIAM | DOM QUIXOTE
Faz tempo que o clássico de Miguel de Cervantes poderia ter uma versão do visionário Terry Gilliam (dirigiu Brazil, 12 Macacos e animações para Monty Python). Mas neste caso o problema não foi só dinheiro. A produção passou por uma sequência de problemas, desastre total. Gilliam não se informou que a área de filmagens era um campo de pouso de aviões da OTAN. Também não pode prever uma tempestade que destruiu cenários. E ainda Jean Rochefort, o ator que interpretaria Dom Quixote, descobriu uma hérnia de disco que o impediu de continuar a filmar.
Já se passaram 15 anos. Nesse tempo, as filmagens que seriam o making off viraram o documentário Perdido em La Mancha, de 2002. No caso de Gilliam parece que faltou planejamento, organização e um pouco de sorte.
NO BRASIL
Por aqui, a imprensa noticiou nas últimas semanas que o filme sobre o magnata das comunicações, Assis Chateaubriand, finalmente vai ser lançado e até ganhou seu primeiro trailer. Talvez “Chatô, o Rei do Brasil” não seja o melhor exemplo sobre os percalços de tirar um projeto da fila, já que membros da produção do filme foram acusados de irregularidades nas contas. Por outro lado, apesar das picuinhas e falta de transparência, ao contrário dos casos citados acima, o filme sairá do papel.
E por aí, alguma ideia encalhada?
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