As mulheres ainda estão sujeitas ao preconceito, aos estereótipos e à discriminação com base em seu sexo. E isso é demonstrado repetidamente na maternidade. Por muito tempo (e talvez até hoje) considerada como a única e grande realização significativa de uma mulher, a maternidade invoca um tipo particular de sexismo; uma mistura única e odiosa de conceitos antiquados como o “lugar da mulher” e a condescendência de todo mundo, abertamente ou furtivamente, alegando serem melhores do que você. Divertido, né?
Leia também:
» Uma reflexão sobre mulheres na área de Criação
» 15 trampos bacanas em startups
» Vamos falar sobre mulheres e tecnologia?
Apesar das mulheres com crianças serem sujeitas ao sexismo diariamente, as grávidas têm seus próprios desafios, aborrecimentos e discriminações. No extremo espantoso do espectro, você tem as obsoletas políticas de licença de maternidade (que por sorte, muitas vezes são vetadas); do outro lado menos institucional, mas ainda repugnante, você tem o fato da mulher gestante ser, muitas vezes, tratada como uma criança ignorante que é incapaz de tomar suas próprias decisões, como um show de horrores ou como bonecas de porcelana que precisam ser confinadas em quartos acolchoados por quase 10 meses.
Embora os corpos femininos enfrentem desafios que os masculinos não enfrentam, o corpo da gestante, em particular, se torna uma propriedade pública. Completos estranhos se sentem no direito de esfregar sua barriga e dar conselhos por terem tido a experiência de ter um filho há 45 anos atrás (ou nunca).
Infelizmente, muitas vezes nós nem mesmo reconhecemos as coisas que falamos para mulheres gestantes, como sexistas; elas estão enraizadas. Para te ajudar a evitar atitudes desagradáveis (pra não dizer mais), aqui está uma lista de perguntas e afirmações comuns que precisamos eliminar das conversas sobre e com (futuras) mães:
“Você vai voltar a trabalhar?!”
Pergunte a si mesmo: Isso é algo que você perguntaria à um homem que acabou de te contar que sua mulher teve um bebê? Então, por que você perguntaria isso à uma mãe? Ela vai pressupor que ou sua carreira foi substituída por ter filhos ou que sua renda é considerada um “extra” no orçamento familiar. Ou que caso fizesse sentido algum dos pais parar de trabalhar (como acontece dependendo da família), seria ela.
“Ah, que pena! Você precisa voltar ao trabalho? Coitadinha!”
Novamente, você assume que a mulher não quer trabalhar. Se você não tem filhos, talvez esteja assumindo que, caso tivesse filhos, iria querer ficar em casa com as crianças. Ou se você de fato tem filhos, talvez quisesse ficar em casa com eles quando nasceram. Isso é fabuloso e totalmente válido. Que bom para você… mas não tente impor isso para as outras pessoas. (E, mais uma vez, você diria isso para um futuro pai?)
“Mas você fez até faculdade, vai largar tudo pra ser dona de casa?”
Ah, sim. O outro lado da moeda julgadora do “mas, espera aí, você não vai ficar em casa com seu filho?”. Porque, como todos nós sabemos, a educação é função só das “pobrezinhas” das donas de casa. *Insira múltiplas reviradas de olhos aqui*
Como podemos usar o pensamento crítico ou os ensinamentos dos livros e filósofos que lemos se não estivermos em um escritório?! Você diz isso para o formado em psicologia que acabou em vendas? Ou para o formado de administração que virou artista? Honestamente, quantas pessoas que você conhece realmente encontraram emprego dentro da área que estudaram?
Olha só, entendo que muitas pessoas fazem faculdade pelo único propósito de encontrarem emprego em uma área específica, mas a faculdade é mais do que o pagamento (teoricamente) que você recebe após se formar. Não é como se toda a formação dela tenha sido um desperdício. Até porque, educação nunca é um desperdício: ela beneficia todo mundo. E, quando alguém escolhe utilizar quaisquer habilidades, educações e experiências que tem, direcionado ao projeto de criar filhos e/ou cuidar da casa, pode acreditar que elas serão testadas, desafiadas e serão utilizadas tanto quanto no mundo do emprego. Quando você diz coisas que implicam outras, você não somente julga a escolha da pessoa, mas diminui a validade e o valor da busca que ela escolheu.
“Você não tem medo de perder ‘momentos importantes’ da vida do seu filho porque estava no trabalho?”
Não basta ter passado por todo o sofrimento de gerar um ser humano no seu corpo e ter seus órgãos esmagados por meses, além de um parto e recuperação dolorosas. Não! Você ainda tem que ouvir todas as vezes que está abandonando seu filho em seus “momentos preciosos” sempre não está com eles. Isso sem contar as cobranças toda vez que as mães não estão com seus filhos por qualquer motivo. Mas quantas vezes você perguntou isso para um pai? Pois é.
Os estereótipos sexistas ferem os dois lados: os homens têm que ser os “chefes” da família, trazer a grana para casa, mesmo que isso signifique se ausentar quase que totalmente da vida dos filhos. Enquanto isso, as mães têm que abrir mão de tudo para estar 100% disponíveis para tudo, desde a primeira palavra até reuniões escolares.
Não seja a pessoa que aumenta as responsabilidades, culpa e a carga emocional pesada que as mães já carregam. Se você não for o(a) chefe dela e estiver pensando em flexibilizar a jornada dela para que possa passar mais tempo com os filhos, caso ela queira, então você não tem nada a ver com isso.
“Qual a vantagem de contratar uma mulher? Vai que ela engravida ou já tem filhos!”
A vantagem são as qualificações dela! Que ser mãe não torna uma mulher uma profissional melhor ou pior?! E que a tarefa de cuidar dos filhos não é só da mãe então essa pergunta nem faz sentido?!
Certamente as mães precisam de licença maternidade, mas isso é um direito garantido por lei. Não podemos nos esquecer que não nascemos de uma incubadora e todos tiveram mães, que um dia precisaram desse afastamento para não prejudicar a saúde do bebê. E, que depois do parto, a mãe precisa de descanso e o bebê, de atenção.
Aliás, quantas vezes deixaram de contratar um pai porque ele acabou de se tornar pai ou porque tem filhos pequenos? Ah tá!
Novamente os estereótipos prejudicam as mães no mercado de trabalho. A discriminação contra mulheres grávidas nesses espaços não é um “exagero”, não é novidade, muito menos coisa só do Brasil.
E você, já ouviu algum comentário sexista ou presenciou discriminação contra (futuras) mães no mercado de trabalho?
Deixe seu comentário: está na hora de falarmos sobre isso!
Adaptação do texto original publicado em [ Romper ].
Comments 4