Nasci no interior do Paraná, quando meus pais estavam começando a estruturar uma vida legal para eles. De lá pra cá, vivemos várias mudanças. Essa oscilação se deu principalmente porque meu pai é comerciante. Da mesma forma que desfrutamos alguns luxos na época de vacas gordas, toda crise econômica afetava o mercado e, consequentemente, nossa renda familiar.
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O interessante também foi ter dois modelos diferentes em casa. Meu pai empreendedor, sempre inquieto e buscando iniciar algo novo. Minha mãe funcionária pública, super equilibrada, com uma carreira de décadas no mesmo banco. Nas diferenças e nas semelhanças entre os dois eu aprendi que a nossa vida profissional nem sempre é uma evolução linear. E precisamos estar preparados para isso.
Os pais sempre querem o melhor para nós. E eles nos criam para seguir um caminho que parece natural: estudar muito, aprender quantos idiomas conseguir, passar no vestibular, fazer uma boa faculdade, ter uma carreira promissora e uma vida confortável.
Mas, na prática, a história muda. Porque você muda, o contexto muda e as perspectivas mudam. O que nos resta é botar ordem no caos.
Uma boa notícia: você já escolheu errado
Com 17 anos eu tive que preencher minha inscrição pro vestibular. Segundo a expectativa social, eu estava assinando um contrato que, se fosse aprovado, passaria o resto da vida fazendo aquilo. Eu estava decidindo o investimento de uma vida que meus pais fizeram para que eu tivesse a melhor educação que podiam me dar.
Sinceramente, não tinha maturidade para isso. Escolhi publicidade sem nunca ter pisado em uma agência antes. Para a maioria das pessoas, com 16, 17, 18 anos a visão de futuro é muito restrita. A capacidade de tomar decisões nunca foi testada. E daí temos que assinar esse contrato vitalício de carreira. Numa boa? Quem acertou foi na cagada. A gente já começou escolhendo errado.
Portanto, partindo dessa premissa, relaxa. Somos livres para mudar. O fracasso faz parte da maioria das histórias vencedoras. O comodismo não faz parte de nenhuma delas. Aqui no Brasil, temos essa cultura do medo do “fracasso”. É difícil para nós mesmos aceitar que erramos, e assumir para os outros é pior ainda.
Temos que acordar para o fato de que um diploma não é sinônimo de sucesso profissional. Mudar no meio do caminho não é perder tempo. É ganhar. Segundo previsões, em um futuro próximo as pessoas vão, em média, mudar de carreira entre 5 e 7 vezes.
Se tá confortável demais, talvez não esteja bom
Tem vezes em que você ganha bem mas não faz um trabalho bom. Não aprende nada. Não evolui. Não tem perspectiva de subir. Você bate cartão, vai pra casa e não tem desafios. Mas a grana é boa. Então… Nessas horas que a gente tem que ficar esperto e não parar no tempo. Talvez um trabalho em um lugar mais interessante e desafiador ofereça menos grana. Aí você tem que tomar decisões e avaliar como um todo.
A gente sempre acha que a vida é aprender e ganhar sempre mais, numa progressão de salário. Mas, às vezes, precisamos abrir mão de grana pra aprender, se desenvolver e lá na frente colher. Até porque às vezes um salário bom que não aumenta acaba virando um salário péssimo em 5 anos. Tem que saber avaliar.
Dinheiro não é tudo, mas faz falta
Eu já trabalhei “só” por amor. O que isso quer dizer? Que já trabalhei em um lugar que era incrível, mas que meu salário mal dava pra pagar as contas. É muito bom todos os dias poder acordar animadão e não odiar as segundas-feiras. Mas, quando eu tomei essa decisão de trabalhar lá, sofri muito na questão financeira. E isso é péssimo. Aquela impotência de não poder às vezes sair pra um lugar porque aqueles R$ 30 de táxi da volta vão pesar no orçamento. Pois é. A vida é assim.
Meu mantra, nessa época, era “vai valer a pena”. Olha, valeu a pena pra mim. Mas eu me planejei, corri muito atrás e dei a sorte de tudo acontecer no timing certo. Portanto, sempre esteja preparado porque uma proposta dessas pode aparecer. Não estou dizendo para fazer como fiz, mas sim considerar isso como possibilidade séria e com muita responsabilidade. Às vezes, a gente desce um degrau para subir dois, só que leva tempo e custa muito sacrifício.
Pouco é melhor que nada
A publicidade é meio doida: tem agência que paga um salário acima do mercado pra você fazer um trabalho que não é muito criativo. Porque ainda existem alguns formatos que não exigem que a gente seja criativamente brilhante, mas “vende” e dá dinheiro. Então você acaba ganhando para fazer um trabalho que não evolui sua pasta.
Aqui, nesses casos, tem que tomar muito cuidado com o rumo que você quer para a sua carreira. Há alguns anos, eu tinha um salário muito alto para o cargo que eu ocupava. Mas acabei preso no looping eterno de: “preciso sair pra fazer portfólio/não consigo sair porque não tenho portfólio”. Na real, a saída para isso era ganhar menos e dar um passo atrás, mas eu segui um caminho não ortodoxo que já contei aqui no Tutano, no post sobre NY.
Com alguns amigos e conhecidos, já aconteceu pior: ficar com o salário lá nas alturas e ser demitido. Aí é que a gente não pode ficar apegado à linearidade: você ganhava bem, estava com o salário inflacionado em relação a sua pasta, ficou uns bons meses sem botar nada interessante na rua… E aí o mercado é cruel. A galera compra sua pasta, pouca gente paga pelo seu potencial.
Nessa situação incômoda, vi muita gente ter que aceitar um salário bem menor do que ganhava, na filosofia “pouco é melhor que nada”. Essa verdade é muito triste, mas é real. Por isso que a gente não pode parar no tempo nem se acomodar. Esteja sempre de olho ao que pode estar a um ou dois passos à frente na sua carreira.
O “fracasso” faz parte do sucesso
Lá em cima eu falei que você começou escolhendo errado. Porque a maioria de nós começou escolhendo errado. A prova é que muita gente está saindo para fazer outra coisa que não publicidade e se dando muito bem. A gente se apega a uma profissão ou um job description achando que isso nos define. É balela. O que a gente adquire é um conjunto de habilidades que podem ser aplicadas a várias disciplinas do conhecimento humano.
Acabamos ficando escravos de rótulos e convenções sociais, fracassamos pelo simples medo do fracasso. Porque “desistir” de um curso na faculdade ou uma profissão não é fracasso. Faz parte de um processo de amadurecimento que pode colocar você nos trilhos certos para o que faz sentido na sua vida. Isso sim que a gente pode considerar sucesso: trabalhar com algo que faz todo sentido, que tem propósito.
Portanto, “seguir em frente” nem sempre é em linha reta. Nosso caminho é cheio de bifurcações, algumas que nos levam a bons caminhos e outras que nos fazem andar em círculos.
E aí eu deixo vocês com uma das melhores frases de uma das melhores músicas da minha banda favorita: “there are two paths you can go by, but in the long run there’s still time to change the road you’re on”.
Esse texto é uma colaboração de Enzo Sunahara, Copywriter atualmente na VML. Caso você também queira colaborar com conteúdos, entre em contato pelo e-mail tutano@trampos.co.
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