Um estudo publicado no International Journal of Business Administration descobriu que o que os estudantes leem na faculdade afeta diretamente o nível de escrita que eles alcançam. Para quem trabalha com redação ou criação de texto, a pesquisa só comprova aquela sensação de que a produção fica capenga quando estamos sem ler com regularidade.
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Os pesquisadores descobriram que o conteúdo e a frequência da leitura podem exercer mais impactos significantes sobre a habilidade de escrever do que lições de escrita. Estudantes que leram jornais acadêmicos, ficção literária ou não-ficção em geral escreveram com maior sofisticação sintática do que aqueles que leram livros de ficção (mistério, fantasia, ou ficção científica) ou que leram, exclusivamente, agregadores online (Reddit, Tumblr e Buzzfeed).
As maiores notas foram para aqueles que leram conteúdos acadêmicos; as menores notas foram para aqueles que leram apenas conteúdos online.
A diferença entre leitura profunda e leve
Pesquisas recentes também revelaram que a “leitura profunda” – definida como leitura lenta, imersiva, rica em detalhes sensoriais, emocionais e complexidade moral – é distinta da leitura leve – pouco mais do que decodificar letras.
A leitura profunda ocorre quando a linguagem é rica em detalhes, alusões e metáforas e ativa as mesmas regiões cerebrais que seriam ativadas se o leitor estive presenciando o evento. Leitura profunda é um ótimo exercício para o cérebro e tem demonstrado que aumenta a empatia à medida que o leitor mergulha mais fundo, adicionando reflexão, análise e conotações pessoais ao que está sendo lido. Ela também oferece aos escritores uma maneira de se apreciar todas as qualidades que fazem os livros serem fascinantes e significativos – e ativa sua habilidade de escrever em um nível profundo.
A leitura leve é comparada ao que se lê em blogs online, “manchetes de notícias” ou “notícias de entretenimento”, aquelas notícias que se baseiam em listas ou chamadas fortes e, ocasionalmente, usam emojis na comunicação. Esse tipo de leitura leve tem a falta de uma voz genuína, um ponto de vista ou um tipo de análise que possa estimular o pensamento. É a leitura leve e fácil que você passa os olhos e que irá esquecer em poucos minutos.
Leitura profunda sincroniza seu cérebro
A leitura profunda ativa os pontos do cérebro responsáveis pela fala, visão e audição, todos trabalhando juntos para nos ajudar a falar, ler e escrever. Leitura e escrita ativam a área de Broca, que nos permite perceber ritmo e sintaxe; área de Wernicke, impactando nossa percepção das letras e significados; e o giro angular, que é responsável pela percepção e uso da linguagem.
Essas áreas estão ligadas por um conjunto de fibras, e essa interconectividade provavelmente ajuda os escritores a se sincronizarem com a linguagem e o ritmo que encontrarem durante a leitura. Seu cérebro percebe a cadência que acompanha a escrita complexa, fazendo com que ele, então, procure imitar ao escrever.
Aqui seguem duas maneiras de se usar a leitura profunda para melhorar a sua escrita:
Leia poemas
Em um artigo publicado no Journal of Consciousness Studies, pesquisadores descobriram a existência de uma “rede de leitura” formada por áreas do cérebro que foram ativadas em resposta a qualquer material escrito.
Além disso, textos mais emocionalmente carregados despertaram diversas regiões do cérebro (principalmente do lado direito) que respondem à música. Em uma comparação específica entre a leitura de poesia e prosa, pesquisadores encontraram evidências de que a poesia ativa o córtex cingulado posterior e o lobo temporal medial, partes do cérebro ligadas à introspecção.
Quando voluntários leram seus poemas favoritos, áreas do cérebro associadas com a memória foram estimuladas mais intensamente do que as “áreas de leitura”, indicando que ler poemas que você ama é o tipo de lembrança que evoca fortes sentimentos – e fortes sentimentos são sempre bons para a escrita criativa.
Leia ficção literária
Entender o estado mental do outro é uma habilidade crucial que capacita os complexos relacionamentos sociais que caracterizam a sociedade humana – é isso que faz um escritor ser excelente na criação de personagens e situações com múltiplas camadas.
Poucas pesquisas foram conduzidas sobre a Teoria da Mente (nossa habilidade de entender que nossas mentes são diferentes das outras pessoas e que suas emoções são diferentes das nossas) mas, recentemente, experiências revelaram que a leitura de ficção literária leva a uma melhor performance em testes de afetividade (entender a emoção dos outros) e cognição (entender o pensamento dos outros e o estado de ser), comparada à leitura de não-ficção, ficção popular ou nada mesmo.
Especificamente, esses resultados mostraram que a leitura de ficção literária aumenta, temporariamente, a Teoria da Mente e, mais amplamente, que a Teoria da Mente pode ser muito influenciada pelo engajamento a verdadeiros trabalhos de arte. Em outras palavras, a ficção literária provoca pensamento, contemplação, expansão e integração. Ler ficção literária estimula mais a cognição das funções cerebrais do que a leitura de, digamos, revistas, entrevistas ou qualquer notícia online.
Concentre-se na leitura profunda
O tempo gasto assistindo televisão é, quase sempre, desperdiçado (seu cérebro desliga quase imediatamente), não importa o quanto você tente justificar e ler revistas ou ficções leves pode ser divertido, mas não incendeia seu cérebro. Se você realmente quer se tornar um escritor melhor, gaste mais tempo lendo ficções literárias, poesias e artigos sobre ciência ou arte, que contenham linguagem complexa e que exigem pensamento. E, claro, quando quiser um descanso não tem problema escolher ver a sua série favorita.
Texto escrito por Susan Reynolds e publicado no blog Psychology Today. Traduzido e adaptado pela equipe do Tutano.
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