Ao escrever as primeiras linhas desse texto, sinto uma pontinha de vergonha por fazer uns dois anos que não mexo na minha pasta decentemente. Mas vou aceitar que dói menos: esse é um sentimento que compartilho com muitos dos meus colegas de profissão.
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Quando a gente entra no ritmo insano do mercado, tem sempre um projeto que a gente está esperando entrar na rua pra mexer na pasta, tem sempre aquela coisa que você não gosta e vai mudar semana que vem, o design sempre está velho, a UX está ultrapassada. E querendo mudar tudo a gente acaba não mudando nada. Mea-culpa feita, vamos ao que interessa: cada vez mais tenho visto a mesma pasta apresentada por pessoas diferentes.
Calma, respira. Não, esse não é um texto sobre plágio. É um texto sobre autenticidade.
Bom, se você parou pra ler um texto sobre pasta, assumo que deve estar em um momento de reflexão. Pode ser um estudante de 17 a 25 anos tentando ingressar nesse mercado doido ou, então, alguém já com quilometragem, mas querendo dar um upgrade no portifa.
O que todos queremos, no final, é ter aquele mapa da mina: adivinhar o que os diretores de criação querem ver. Eu confesso que quase fiquei louco atrás dessa resposta. Tudo isso pra um dia cair na real: cada um quer ver uma coisa. E todos, ao mesmo tempo, querem achar a mesma coisa: uma grande ideia.
Você pode ser contratado por uma única e grande ideia, desde que ela seja autêntica.
Chegamos à ferida que eu gostaria de tocar. Vejo muitos colegas juniores ou plenos com pastas parecidas, todas elas com pranchas maravilhosas de ideias premiáveis que nunca foram colocadas em prática e estourariam o budget de qualquer campanha que fiz na vida. E o mais grave: a sensação é de que todas beberam da mesma fonte.
Vamos começar pelo começo: é claro que boas ideias são valorizadas. Mas se você é júnior ou pleno, vai ter que fazer muito post, e-mail, banner, texto de site e rodadas de título. Se você for sênior, vai ter que fazer tudo isso com rapidez e qualidade, no meio de uma reunião de kick off de uma concorrência.
Uma boa ideia vai fazer você brilhar, mas o que vai contar muitos pontos é o seu capricho, seu craft, seu refinamento na execução. Isso é que vai contar muitos pontos. Às vezes, um post que teve timing, que teve pimenta, que arrancou uma risada do diretor de criação que estava vendo sua pasta escondido no meio de uma reunião de pauta… Esse post vai contar mais do que uma prancha de uma ideia que nasceu morta. E isso só será alcançado se você tiver personalidade.
As melhores pastas que vi na vida são as que me revelam a personalidade da pessoa. Estamos em uma profissão que demanda, além de boas ideias, muito amor. Então tem que botar amor na pasta também. Às vezes, é mais qualidade do que quantidade. Às vezes, para fazer quantidade você tem que botar projetos pessoais. E isso enriquece.
No final das contas, o diretor de criação não contrata o job que está lá, contrata a pessoa. Ele contrata suas referências, suas peculiaridades, seu senso de humor, os filmes B coreanos que você viu no ano passado, o curso de hortas conectadas com Arduíno que você fez no feriado.
Tudo isso pra dizer que você tem que focar mais no processo do que no resultado. Não tente mostrar que você é criativo. Tente ser criativo e mostrar quem você é. Acreditem, apanhei muito pra descobrir isso. Essa ficha só me caiu no momento em que eu mais tive necessidade de me reinventar. No momento em que mais duvidei do meu talento. E foi aquele momento que me empurrou para os dias mais incríveis da minha carreira.
Mas isso é conteúdo para o próximo texto.
Esse texto é uma colaboração de Enzo Sunahara, Copywriter atualmente na VML. Caso você também queira colaborar com conteúdos, entre em contato pelo e-mail tutano@trampos.co.
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